quinta-feira, 23 de maio de 2013

PAULO FREIRE E OS ADOLESCENTES AUTORES DE ATO INFRACIONAL: PARTE 2




Os primeiros passos no cumprimento da medida sócio educativa são marcados pela indisposição em aceitar uma responsabilidade inesperada. A Medida de Liberdade Assistida, por exemplo, não é LIBERDADE! Daí a visível dificuldade de aceitação e do cumprimento do seu processo de execução. O Educador tem a significativa missão de reverter essa resistência numa disposição em busca da verdadeira Liberdade.

É preciso ousar! A Liberdade da Liberdade Assistida começa na relação entre Educador e Adolescente, pois, se nessa relação esse objeto de desejo não se apresentar como perspectiva real, o sentimento de desumanização cicatriza-se e, é essa cicatriz que deve ser evitada na pele dessa adolescência que sonha, mesmo quando destrói os sonhos de outros. Portanto, o Educador é aquele que luta pela criação de uma situação nova – o “Ser mais” - gerada da percepção de uma adolescência oprimida. Na medida em que esse ato se entranha nele e o adolescente o assimila, possíveis feridas são enxergadas com mais clareza, desencadeando uma ação transformadora.


Até então, esse adolescente experimenta uma antítese caracterizada pela inferioridade/superioridade, que se constitui um foco desencadeador de conflitos e infrações, pois, na medida em que se sente inferiorizado, responde com um ato de suposta superioridade: “Eu tenho poder! É preciso que haja entre os parceiros, uma sintonia de consciência da realidade oprimida e de impulso transformador para que ocorra uma cisão entre a situação infracional e se vislumbra um novo horizonte na distância da ponte que se atravessa. O final da ponte nunca é o limite! Ela é um transcurso que desemboca numa nova paisagem.

No decorrer do cumprimento da Medida sócioeducativa, o vinculo entre Educador e o adolescente é de fundamental importância no processo de formação humana. A humanização do adolescente torna-se a própria humanização do Educador, pois nenhum ato de valorização do humano esgota-se na satisfação do outro, mas também daquele que a executou, por isso, nos tornamos mais humanos quando agimos de acordo com valores dignos e edificantes.


O profissional qualificado para relacionar-se com o adolescente, portanto, aquele que compreende o diferencial característico dessa fase, seus desafios, conflitos e sonhos, precisa ser um agente provocador do inerente potencial empreendedor que possuem, muitas vezes, deficientemente aproveitados, por que poucos valorizados e interpretados como rebeldia sem causa. O Educador precisa escutar a respiração do adolescente, ela é ansiosa e pulsa em acelerado movimento.
 

Na construção do vinculo ambos constroem uma relação de confiança e interatividade, estabelecendo-se então, um projeto de reestruturação do humano, antes desumanizado. Juntos, buscam outros sentidos e outros horizontes num processo em que a perspectiva do protagonismo juvenil vai se efetivando e o adolescente desenvolve a autoconsciência de suas habilidades e, principalmente, da melhor utilização das mesmas. É o estágio da percepção dos problemas e da necessidade de encará-los de forma diferenciada, não como impulsionador de outros, como a infração, mas como desafio a ser vencido, como afirma Paulo Freire:

“Quanto mais se problematizam os educandos, como seres no mundo e com o mundo, tanto mais se sentirão desafiados. Tanto mais desafiados, quanto mais obrigados a responder ao desafio. Desafiados, compreendem o desafio na própria ação de captá-lo. Mas, precisamente porque captam o desafio como um problema em suas conexões com outros, num plano de totalidade e não como algo petrificado, a compreensão resultante tende a tornar-se crescentemente crítica, por isso cara vez mais desalienada”.


Até quinta feira com mais reflexões Freireanas
Gilson Reis
23.05.13