quinta-feira, 4 de agosto de 2011

UM CHEIRO DE CAFÉ... Humm...


Um cheiro de café
Não é somente um cheiro de café.

É símbolo de uma presença
E também de uma ausência.

É manifestação de uma ausência presente.


Quando o cheiro vai passear por outras paisagens
Fica o aroma de quem o fez...
Aromatizando o sentimento
De saudade
De delicadeza
De irmandade.

Cheiro de café
Não se prende dentro de uma garrafa
Por isso se abre as portas
Para o deleite de quem o consome
E o prazer de quem nos fez degustar.

Por isso... ao partires...
Vai na certeza de que teu cheiro existe
Que lançaste o pó de sentimentos nobres
Na terra onde pisastes

E que aqueles que ficam...
Lembrarão de ti
Como quem lembra dos prazeres
De um de-li-ci-o-so café.

Cheiro de café!

Gilson Reis

terça-feira, 2 de agosto de 2011

LUA MINGUANTE

Hoje eu vi a lua
linda vagando pelo espaço
Como era tão fina, parecendo um eclipse
mostrava um sorriso maroto
Naquele céu escuro lá estava ela
sozinha, suspensa no ar

Hoje eu vi a lua
de uma Van apertada,
lotada de gente indiferente
cada um com seu fone de ouvido
despreocupada com quem está do lado
e eu lá contemplando a lua

Hoje eu vi a lua
Sem cansaço, sem mau humor
mesmo com quatro sacolas na mesma mão
pois a outra estava agarrada
segurando em algum lugar para não cair
não haveria de cair
tanta gente me apertando

Hoje eu vi a lua
linda, sorria pra mim
nem percebi, cheguei
desci, dividi as sacolas com a outra mão

Hoje eu vi a lua
também com meu fone no ouvido
ouvi um blues
dancei no meio da rua
em plena rua dancei
no meio da rua

Hoje eu vi a lua...

TEATRO

O último domingo estava um tanto cinzento, frio... fui ao apartamento de meu amigo, Francisco, onde se encontravam também Jorge e Rodrigo porque pretendíamos fazer um passeio, o que não ocorreu. Então ficamos ali em seu apartamento, ora conversando ora em silêncio, vendo vídeos no youtube. Assistimos coisas interessantes e lembro que falamos sobre o quanto essa tecnologia tem favorecido o acesso à informações valiosas tão rapidamente, o que em outros tempos, não tão distante, era quase impossível. Ah..., acesso rápido também à muitas bobagens, é bom lembrar.

Depois de muito estar ali decidimos que iríamos ao teatro Galpão do Folias ver a seguinte peça, à qual recomendo a todos.

De 29/07 a 11/09/2011 “AS TRÊS VELHAS” de Quinta a Sábado às 21hs30 e Domingos às 19hs “Dirigido pela veterana Maria Alice Vergueiro, o espetáculo "As Três Velhas", texto do cineasta chileno Alejandro Jodorowsky. A peça, que até agora só teve uma montagem com títeres, na Bélgica, conta a história fabulesca de duas marquesas decadentes e octogenárias. Melissa e Graça vivem em uma mansão em ruínas e são vigiadas pela centenária criada Garga. Parecem ser salvas do desgosto ao receberem um convite para se tornarem garotas-propaganda. Elas ainda são cercadas por uma figura dúbia e misteriosa.”

http://www.youtube.com/watch?v=RXVcmlAAPk8&feature=relmfuhttp://www.youtube.com/watch?v=ANbk84wjLck

Ainda no apartamento, Francisco nos deu algumas informações sobre Maria Alice Vergueiro, que dispensa apresentação, mas tenho que reconhecer minha ignorância. Fomos assistir a peça e saímos do teatro extasiados com o que vimos, um trabalho tão bem feito, com tamanha intesidade de interpretação dos atores. Haja dedicação e talento! Estou pensando em uma entrevista que vi com a atriz Fernanda Montenegro em que ela dizia que às vezes tem a sensação de que as divindades estão ali no teatro protegendo, abençoando, guiando os atores.

Há algum tempo uma amiga disse que o texto mais bonito que ela já havia lido sobre o que é o ator era um texto de Plínio Marcos, entitulado - O Ator – que apresento aos leitores, e que acredito que será melhor entendido quando assistirem a peça.

O Ator

Por mais que as cruentas e inglórias
Batalhas do cotidiano
Tornem um homem duro ou cínico
O suficiente para fazê-lo indiferente
Às desgraças e alegrias coletivas,
Sempre haverá no seu coração,
Por minúsculo que seja,
Um recanto suave
Onde ele guarda ecos dos sons
De algum momento de amor já vivido.

Bendito seja
Quem souber dirigir-se
A esse homem
Que se deixou endurecer,
De forma a atingi-lo
No pequeno porém macio
Núcleo da sua sensibilidade.
E por aí despertá-lo,
Tirá-lo da apatia,
Essa grotesca
Forma de auto-destruição
A que por desencanto
Ou medo se sujeita.
E por aí inquietá-lo
E comovê-lo para
As lutas comuns da libertação.

O ator tem esse dom.

Ele tem o talento de atingir as pessoas

Nos pontos onde não existem defesas.

O ator, não o autor ou o diretor,

Tem esse dom.

Por isso o artista do teatro é o ator.

O público vai ao teatro por causa dele.

O autor e o diretor só são bons na medida

Em que dão margem a grandes interpretações.

Mas o ator deve se conscientizar
De que é um cristo da humanidade:
Seu talento é muito mais
Uma condenação do que uma dádiva.
Ele tem que saber que para ser
Um ator de verdade, vai ter que fazer
Mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios.
É preciso coragem,
Muita humildade e, sobretudo,
Um transbordamento de amor fraterno
Para abdicar da própria personalidade
Em favor de seus personagens,
Com a única intenção de fazer
A sociedade entender
Que o ser humano não tem
Instintos e sensibilidades padronizados,
Como pretendem os hipócritas
Com seus códigos de ética.

Amo o ator
Nas suas alucinantes variações de humor,
Nas suas crises de euforia ou depressão.
Amo o ator no desespero de sua insegurança,
Quando ele, como viajor solitário,
Sem a bússola da fé ou da ideologia,
É obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente
Procurando, no seu mais secreto íntimo,
Afinidades com as distorções de caráter
De seu personagem.

Amo o ator
Mais ainda quando,
Depois de tantos martírios,
Surge no palco com segurança,
Oferecendo seu corpo, sua voz,
Sua alma, sua sensibilidade
Para expor, sem nenhuma reserva,
Toda a fragilidade do ser humano
Reprimido, violentado.
Amo o ator por se emprestar inteiro
Para expor à platéia
Os aleijões da alma humana,
Com a única finalidade
De que o público
Se compreenda, se fortaleça
E caminhe no rumo
De um mundo melhor,
A ser construído
Pela harmonia e pelo amor.

Amo o ator
Consciente de que
A recompensa possível
Não é o dinheiro, nem o aplauso,
Mas a esperança de poder
Rir todos os risos
E chorar todos os prantos.
Amo o ator consciente de que,
No palco, cada palavra
E cada gesto são efêmeros,
Pois nada registra nem documenta
Sua grandeza.

Amo o ator e por ele amo o teatro.
Sei que é por ele que
O teatro é eterno
E jamais será superado
Por qualquer arte que
Se valha da técnica mecânica.



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Cortesia: lição de vida


Eu estava hoje pensando no que eu postaria como mensagem de final de julho no meu blog e, ainda, como mensagem de início de agosto nesse blog do Coletivo Cultural Pegando o Gancho. Aos domingos (e também às segundas-feiras), tenho vontade de falar para todos alguma mensagem sincera, que venha do fundo do meu coração.
Assim sendo, fiquei com vontade de dizer que eu acredito (do mesmo modo que acredito em Deus) que a lição maior que podíamos dar ao mundo seria a de sermos cordatos com todos, in-dis-tin-ta-men-te: com o rico e com o pobre, com os poderosos do mundo e também com os que nele são humilhados, com nossos amigos e inimigos.
Se tal atitude for mesmo aquela do fundo do coração, abarcando assim a virtude da profunda sinceridade, poderíamos ainda, ao fim dessa vida, dizer o mesmo que sugere o poeta Manuel Bandeira no seu poema e, tão somente, por que afinal já teríamos exercitado muito essa atitude:

CONSOADA

Quando a indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

domingo, 31 de julho de 2011

SEQUAZ



Não faz moradia no romance,
Não obstante, igualmente o seja.
Não mergulha no erotismo da escolha,
Ou, ao menos, não o planeja.
Entretanto, é tanto...
Que igualmente transborda em entrega, em afeto concreto.
Decodifica verdades e, de certo, compactua com as alheias.
Não veta palavras, ao contrário, as afia no convencimento,
Saboreia-as de bom grado,
Ignorando-lhe até mesmo a ignorância, sem vacilo.
Discute. Congrega. Arrasta. Entrega. Permeia.
Jogo inexplicável de convívio conivente,
Cumplicidade tolerante, mesmo que vil.
Por vezes, enxerga, mas faz-se fingidor.
Se confundi-lhe em amor, não o nega.
Agrega. Preserva. Confia.
Naturalmente, se traído chora, ignora.
Senão, releva, consente, sublima.
Contudo e como tudo, é vitima do tempo que esvai sem morrer.
É saudade sem volta. É silêncio sem resposta.
No viver é pra sempre...
Mas...
Nem sempre...

30/07/2011 – 12:05
Chiquinho Silva